domingo, 14 de agosto de 2011

Desigualdades Raciais em saúde medindo a experiência de discriminação auto-relatada


Desde meados do século XX, as desigualdades sociais em saúde têm recebido renovado destaque na literatura científica. Marcada por controvérsias teóricas e metodológicas, a investigação de dimensões “raciais” dessas desigualdades figura como abordagem promissora nesta área de pesquisa. Buscando compreender as origens das desigualdades “raciais” em saúde, alguns autores têm utilizado estratégias, como a mensuração do relato de discriminação. O objetivo deste trabalho consiste em elaborar um instrumento para medir o relato de discriminação “racial” em indivíduos adultos no Brasil. Os itens do instrumento serão selecionados mediante uma revisão da literatura e a condução de grupos focais. Posteriormente, tais itens serão avaliados por estudiosos das relações raciais no Brasil. A versão preliminar do instrumento será testada em um estudo piloto para um refinamento dos itens. Em seguida, a escala será aplicada em uma amostra de estudantes de graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Análises de confiabilidade e de validade serão conduzidas na etapa final de construção do instrumento. A elaboração desta escala pode contribuir para o entendimento do papel que a discriminação “racial” exerce como determinante das condições e desigualdades em saúde no Brasil.
 
O interesse no estudo das desigualdades sociais em saúde tem crescido de maneira expressiva nas últimas décadas e se tornado parte integrante da agenda de pesquisa de organismos internacionais, como a OMS através de sua Comissão de Determinantes Sociais de Saúde (WHO, 2007) e de países como os EUA (Krieger, 2001b), a Inglaterra (Macintyre,1997) e o Brasil (CNDSS, 2006).

Na América Latina e no Caribe, a tradicional produção intelectual acerca das desigualdades em saúde guarda íntima relação com o Movimento da Medicina Social. Tal produção, apesar de nem sempre reconhecida ou identificada, tem sido expressiva e marcada por grande quantidade de trabalhos com relevante conteúdo político, além de pesquisas empíricas com distintas abordagens teóricas em relação às desigualdades em saúde (Almeida-Filho et al., 2003).


As variadas formas de estratificação social e sua estreita relação com as desigualdades em saúde tem sido observada em diversos locais e populações investigadas (Marmot & Wilkinson, 1999; Galobardes et al., 2006). Neste sentido, desigualdades na morbimortalidade de grupos com distintas condições socioeconômicas, de gênero, idade e localização geográfica têm sido documentadas (Kawachi, 2000; Lynch & Harper, 2006). Quando estas disparidades são consideradas injustas, evitáveis e desnecessárias no contexto em que ocorrem, adquirem a denominação de iniqüidades em saúde (Whitehead, 1992; Kawachi et al., 2002).


Em particular, as desigualdades “raciais”a em saúde têm alcançado destaque na literatura tanto pela capacidade de perpetuarem-se em padrões históricos e contemporâneos de desigualdade, quanto por suas características iníquas. Há um reconhecido acúmulo de evidências acerca das iniqüidades “raciais”, nas quais grupos minoritários e/ou sistematicamente discriminados revelam, quase invariavelmente, piores condições de saúde (LaVeist, 2002).
 
 
Tese de João Luiz Dornelles Bastos - Universidade Federal de Pelotas, Pró-reitoria de Pesquisa e Pós Graduação, Programa de Pós-graduação em Epidemiologia, Pelotas, Rio Grande do Sul, 2010


Foto: Google

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