segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pesquisa da UERJ sobre políticas afirmativas



A inclusão desmitificada


Rodrigo Martins
25 de setembro de 2010 às 12:55h


Pesquisa da Uerj desmonta os argumentos de quem se opõe às políticas afirmativas


Está previsto para o segundo semestre deste ano o julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), da legalidade da reserva de vagas nas universidades por critérios raciais. Diversas audiências públicas foram realizadas no plenário da Corte em março deste ano. Todas as cartas de quem defende ou critica a medida foram apresentadas, mas um estudo recente da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) lança luzes sobre a questão e desmitifica vários aspectos relacionados às ações afirmativas que têm sido levantados por quem é contra esse tipo de política.


A pesquisa, na realidade, não aborda somente o sistema de cotas. Faz uma ampla radiografia das ações afirmativas nas 70 universidades públicas federais e estaduais. Revela, por exemplo, que não se tratam de políticas desconhecidas, uma vez que 71,4% das instituições possuem medidas para facilitar ou garantir o acesso de negros e pobres ao ensino superior. E essas políticas estão distribuídas por todo o território nacional de maneira bastante homogênea (gráfico ao lado).


"Nas regiões mais populosas do País, mais de 80% das universidades possuem alguma ação afirmativa. Apenas o Sul tem uma participação menor, ainda assim mais da metade das instituições sulistas abraçaram a ideia. No caso da Região Norte, com cerca de 40%, é preciso levar em conta o reduzido número de universidades. Se uma ou duas delas aderirem às cotas, por exemplo, o porcentual de instituições com políticas afirmativas cresce muito", explica João Feres Júnior, coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da Uerj, responsável pela pesquisa. "Há muitas experiências testadas e as universidades podem apresentar à sociedade seus resultados."


Como a adoção das ações afirmativas não é mais um tiro no escuro nem um projeto futuro, os pesquisadores puderam comprovar que vários argumentos usados no debate das cotas raciais são falaciosos. Por exemplo, o de que a medida beneficia majoritariamente negros de classe média. Das 40 universidades que adotaram critérios raciais na seleção de alunos, apenas quatro não possuem nenhum tipo de corte socioeconômico associado. Ao passo que 90% delas incluí-ram a necessidade de o estudante ser egresso de escola pública, possuir renda baixa ou ambos os critérios combinados.


O temor da criação de tribunais raciais travestidos de comissões de verificação também se mostra exagerado. A Universidade de Brasília (UnB) é questionada no Supremo por ter instituído uma comissão. Mas, além dela, apenas outras três instituições criaram comitês para verificar a veracidade das informações prestadas pelos candidatos. Cerca de 85% das universidades com cotas raciais adotaram a autodeclaração como critério único para definir quem se qualifica ou não.


"Além disso, deve-se ressaltar que 40 das 70 universidades públicas estaduais e federais adotaram ações afirmativas para incluir determinadas etnias. E isso não estimulou o ódio racial", afirma Feres Júnior. A reitora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Dora Leal Rosa, confirma a percepção do professor da Uerj: "Nunca vi nada que se assemelhasse a isso em sala de aula".


A UFBA adotou, em 2004, um sistema que reserva 36,55% das vagas para alunos oriundos de escolas públicas e que se declaram pretos ou pardos. Outros 2% são reservados a alunos descendentes de índios e 6,45% para candidatos egressos de escolas públicas de qualquer cor ou etnia. "Aumentamos o porcentual de afrodescendentes e não temos registro de nenhum tipo de conflito ou ódio racial levado a cabo por alunos brancos que se sentiram prejudicados com as cotas. Ao contrário, acredito que a convivência entre estudantes de todas as classes sociais e raças só contribui para uma sociedade mais tolerante."


Oito anos atrás, 8,2% dos candidatos aprovados no vestibular da UFBA declararam-se negros. No ano passado, esse porcentual foi de 18,9%. E o desempenho dos alunos é considerado muito satisfatório. "Na realidade, não há diferenças significativas em termos de aprendizado, mas verificamos uma taxa de evasão bem menor entre os alunos cotistas. Quem é beneficiado agarra a oportunidade com unhas e dentes. E temos exemplos de alunos cotistas que se formaram e estão fazendo mestrado na universidade", afirma Rosa.


De acordo com o pesquisador Antonio Sérgio Guimarães, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), o êxito dos alunos cotistas da UFBA não é um caso isolado. "Há muitos estudos que comprovam que o desempenho dos cotistas é igual e, em alguns casos, até superior ao dos demais alunos. Na Unicamp, por exemplo, eles constataram que os cotistas tiveram uma evolução no aprendizado muito mais acentuada. Isso prova que os estudantes conseguem superar as deficiências de aprendizagem na educação básica se têm uma chance", afirma. "Infelizmente, a USP não avançou muito nesse tipo de inclusão, até pelo conservadorismo da classe média e da oposição escancarada dos meios de comunicação paulistas."


Outro argumento desmontado pela pesquisa da Uerj é o de que o governo federal tem imposto a adoção desse tipo de política às suas universidades, enquanto as demais instituições públicas se mostram refratárias à medida. Ainda que haja uma discussão sobre a criação de uma lei federal para regulamentar as políticas de ação afirmativa, ao menos 45% das universidades estaduais abraçaram a medida. Mesmo sem ser obrigadas a isso por imposição de qualquer legislação federal, uma vez que as instituições têm autonomia. "Considero até melhor que seja dessa forma. Porque a imposição de uma regra única para todas as instituições de ensino superior pode deixar de levar em conta especificidades locais, como a presença diferenciada dos grupos étnicos pelo território", diz Feres Júnior.


Na avaliação de Guimarães, o governo federal pode induzir a adoção de políticas afirmativas sem a necessidade de impor nada nem de ferir a autonomia das universidades. "O Ministério da Educação pode, por exemplo, criar políticas de apoio ao aluno cotista ou repassar mais recursos às instituições comprometidas com a inclusão dos alunos negros ou pobres", propõe. "Não precisa forçar. Há universidades que, em vez de cotas, instituíram um bônus no vestibular e conseguiram resultados efetivos."


Cerca de 10% das instituições públicas de ensino superior adotaram o sistema de bônus para alunos pobres, egressos de escolas públicas ou de determinadas etnias no processo seletivo, revela a pesquisa da Uerj. Cerca de 7% das universidades combinaram esse mecanismo com o sistema de cotas. O caminho exclusivo da reserva de vagas foi trilhado por metade das instituições. E 27,1% combinaram o sistema de cotas com o acréscimo do número de vagas (gráfico nesta página).


"Esse, por sinal, é um aspecto que deve ser ressaltado. O governo federal ampliou muito o número de vagas no ensino superior e incluiu muitos alunos egressos de escolas públicas por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni), que financia os estudos de alunos carentes em instituições privadas", afirma Guimarães. "Se antes se dizia que os cotistas estavam 'roubando' vagas de quem se preparou melhor, deve-se levar em conta que muitas universidades públicas aumentaram tanto a oferta de vagas e cursos que o déficit inicial foi superado. É o caso da UFBA, que tinha perto de 3,3 mil vagas antes de adotar as cotas e hoje possui mais de 7,8 mil."


De acordo com a reitora da universidade, um dos principais méritos do sistema foi democratizar o acesso a cursos de alto prestígio social. "Já tínhamos muitos alunos negros e provenientes de escolas públicas em cursos como Educação e Filosofia, mas poucos em áreas como Medicina, Direito e Engenharia. Agora, essa distorção foi corrigida."


A educadora ressalta que toda política de ação afirmativa deve ser vista como transitória. "Após dez anos de experiência com as cotas, a UFBA deve reavaliar o sistema. Verificar se produziu resultados satisfatórios, e até agora eles foram ótimos, bem como avaliar se há a necessidade de manter ou aprofundar essa política", explica. "O ideal mesmo é melhorar a qualidade da educação básica. O Brasil universalizou o acesso ao ensino fundamental. Agora, precisamos garantir que esses alunos se mantenham na escola, tenham acesso ao ensino médio e a uma educação de qualidade. Se essa demanda for suprida, não precisaremos mais de políticas de inclusão."


Rodrigo Martins - é repórter da revista CartaCapital há quatro anos. Trabalhou como editor assistente do portal UOL e já escreveu para as revistas Foco Economia e Negócios, Sustenta!,Ensino Superior e Revista da Cultura, entre outras publicações.

Pesquisa aponta aumento de relações sexuais desprotegidas ente jovens

MÍDIA REPERCUTE AUMENTO DE RELAÇÕES SEXUAIS DESPROTEGIDAS ENTRE JOVENS

Ações e estudos que marcaram o Dia Mundial da Contracepção, 26 de setembro, continuam a ser destaque nesta segunda-feira na imprensa regional e nacional. Pesquisa internacional realizada com mais de 5 mil jovens com idades entre 15 e 24 anos de 25 países da Ásia, Europa, América do Norte e Latina aponta um "aumento considerável" de relações não protegidas, de 25%, em relação aos resultados de 2009. O estudo revela ainda que, embora mais de 80% dos jovens reconheçam a sua responsabilidade de usar um contraceptivo, 44% dão mais prioridade à higiene pessoal - incluindo o uso da ducha, a depilação e a aplicação de perfume - do que à contracepção, quando se preparam para um encontro que pode levar à prática de relações sexuais. Apenas metade (51%) dos jovens entrevistados considerou estar muito bem informada sobre as opções de contracepção. A razão mais citada para a não utilização dos métodos é "não ter nenhum disponível no momento".

Fonte: Departamento DST/AIDS - Ministério da saúde

domingo, 26 de setembro de 2010

Saúde mental da população negra é tema de discussão no Rio de Janeiro

II Seminário População Negra e Saúde Mental do Município do Rio de Janeiro

Com base na Política Nacional de Saúde Mental que tem como um dos seus desafios a promoção da equidade e nas recomendações da Política Nacional de Saúde Integral da População estaremos realizando no dia 05 de outubro de 2010, o II Seminário População Negra e Saúde Mental do Município do Rio de Janeiro.

Local: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rua São Francisco Xavier 524, Maracanã – Auditório 53 (5º Andar)

Público Alvo: Gestores, profissionais, estudantes de saúde mental e sociedade civil.

Programação

8:00 - Credenciamento

9:00h - Mesa de Abertura

9:30h - Comunicações:

A construção do racismo no Estado Brasileiro (Edson Cardoso – IROHIN e Universidade de Brasília)

Raça, racismo e saúde (Fernanda Lopes – Fundo de População das Nações Unidas)

11:00h – Painel 1 – Impactos do Racismo na Saúde Mental

Biblioterapia: uma nova atuação no enfrentamento do racismo (Perses Canellas – Secretaria Estadual de Educação – IEPIC)

A força dos estereótipos: dificuldades para a expressão de outros modos de existência ( Maria da Conceição Nascimento – Fórum de Relações Raciais CRP/RJ)

Ecos do silêncio: algumas reflexões sobre uma vivência de racismo (Adriana Soares Sampaio – Instituto de Psicossomática Psicanalítica Oriaperê)

13:00h – Brunch

14:00h – Painel 2 – Caminhos da Eqüidade: Política Nacional de Saúde Integral da População Negra e sua interface com a Política Nacional de Saúde Mental

Política Nacional de Saúde Integral da População Negra ( SEGEP – MS)

Política Nacional de Saúde Mental (Coordenação de Saúde Mental – MS)

As políticas e o controle social (Lúcia Xavier – Criola)

Debatedor – Luiz Eduardo Batista (Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo)

16:00 – Propostas

16:30 - Encerramento

Inscrições: fernando.nova@smsdc.rio.rj.gov.br, guimar.mac@gmail.com, ou tel: (21) 22737398

Realização: Instituto de Psicossomática Psicanalítica Oriaperê, Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde, Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro

Apoio:Conselho Regional de Psicologia/RJ e Comitê Técnico de Saúde da População Negra da SMSDC/RJ.

Comissão Organizadora: Marco Antonio C. Guimarães, José Marmo da Silva, Adriana Soares Sampaio, Louise Silva, Maria da Conceição Nascimento, Monique Miranda, Tânia Viana


Propriedade Intelectual é tema de curso em Recife



GTPI realiza mini-curso e seminário sobre propriedade intelectual e acesso a medicamentos
O Grupo de Trabalho Sobre Propriedade Intelectual (GTPI) realizará em Recife, nos dias 15 e 16 de outubro, respectivamente, o mini-curso "Primeiros Passos Sobre Propriedade Intelectual e Acesso a Medicamentos" e o seminário "Saúde, Propriedade Intelectual e Mídia". A primeira atividade será voltada à estudantes, profissionais do Direito e da área de saúde, militantes de movimentos sociais e organizações não-governamentais, enquanto a segunda, que abordará a relação da mídia com os assuntos em questão, é recomendado para ativistas e profissionais de imprensa. Ambos acontecerão no Hotel Internacional Palace, localizado em Boa Viagem - Recife.


O mini-curso "Primeiros Passos Sobre Propriedade Intelectual e Acesso a Medicamentos" terá como meta disseminar informações sobre o sistema de patentes e seus impactos no acesso a medicamentos, utilizando uma linguagem acessível e abordando questões atuais de forma teórica e prática. A compreensão e o aprofundamento nas questões fornecerá uma importante ferramenta para o entendimento de uma das questões mais sensíveis para a saúde pública na atualidade.


A boa notícia é que o GTPI selecionará duas pessoas para participar da atividade, com bolsa integral (incluindo as despesas com passagem, hospedagem e alimentação). Os interessados devem enviar carta de motivação e currículo para o e-mail: rodrigo@abiaids.org.br até dia 27 de setembro.


Com a presença de representantes da sociedade civil, do governo federal e da imprensa em geral, o seminário "Saúde, Propriedade Intelectual e Mídia" discutirá diversos temas relevantes sobre propriedade intelectual e saúde pública, com ênfase para o acesso a medicamentos no Brasil. Destacam-se os debates sobre o desafio das assessorias de comunicação de ONGs e o acesso aos veículos de comunicação, patentes pipeline, a licença compulsória do Efavirenz e redes sociais e mídia alternativa. A atividade, que ocorrerá nos períodos da manhã e tarde, terá início às 9h e será encerrada às 17h.


Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual - GTPI/REBRIP
tel 21 2223-1040 fax 21 2253-8495
www.abiaids.org.br