segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Racismo nas universidades é tema de debate

Mulheres negras pesquisadoras discutem o racismo institucional nas universidades


Por Joceline Gomes

Menos de 1% dos 6 mil doutores que se formam por ano no país são negros, e menos de 1% das teses tratam temas de interesse das populações afrodescendentes. Para discutir esses dados e formas de revertê-los ocorreu, na manhã desta sexta-feira (25), em Brasília, a mesa "Pesquisadoras Negras", evento integrante do 4º Festival da Mulher Afro Latino Americana e Caribenha.

"A academia é um espaço hostil à nossa presença. Orientadores acham que não podem entrar na questão racial. Por que não?", questionou a doutora Maria Aparecida Silva Bento, diretora executiva do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT).

A professora lembrou a dificuldade na relação entre o pesquisador e o orientador, que, muitas vezes, considera o ato de abordar a questão racial no Brasil como militância. Segundo Maria Aparecida, a rigidez das instituições acadêmicas faz muitos estudantes negros desistirem de seus temas originais, pois, geralmente, os projetos de temática racial não são aprovados, ou os orientadores afirmam não ter conhecimento ou bibliografia sobre o tema.

Para a diretora, é preciso superar esse obstáculo, se organizar e pensar maneiras de melhorar a relação com agências financiadoras de programas de mestrado e doutorado, a fim de possibilitar benefícios a longo prazo para outros pesquisadores afro-brasileiros.

Esquecimento – Janaína Damasceno, doutoranda em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), sentiu essa dificuldade durante o desenvolvimento de sua tese: "Os Segredos de Virgínia", sobre a psicanalista e socióloga brasileira Virgínia Bicudo (1910-2003), primeira a abordar as relações raciais em um trabalho de pós-graduação no país e primeira negra a se tornar professora universitária.

Segundo Janaína, há um processo de esquecimento e rememoração das pesquisadoras negras, além de uma tentativa de embranquecimento. Sobre Virgínia Bicudo, por exemplo, a maioria das referências encontradas não diziam que ela era negra. De acordo com Janaína, a psicanalista atendeu a autoridades brasileiras como Eduardo Suplicy e teve contato com Juscelino Kubitschek, mas no campo das Ciências Sociais, Virgínia foi esquecida. "As teses sumiram do cenário acadêmico. As teses somem, mas as ideias não", disse.

Fortalecimento – A mediadora dos debates, Juliana Nunes, da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal, destacou que esse debate só é possível hoje porque muitos homens e mulheres afrodescendentes ousaram abordar o tema em tempos bem mais difíceis. "A universidade é um espaço que reproduz o sistema racista da sociedade brasileira, mas nós estamos aqui hoje, e este é um espaço de fortalecimento", argumentou.

Andressa Marques, mestranda em Literatura e pesquisadora da Universidade de Brasília, reiterou a necessidade de superar os obstáculos: "enfrentar o racismo institucional é um problema diário no meio acadêmico. Queremos não ter de lidar com isso, mas precisamos seguir em frente".

Ao discutir a proposta de criação de universidades quilombolas, a pesquisadora destacou a importância de um projeto que valorize e respeite a cultura local, sem limitar as possibilidades dos estudantes. "Pensar um espaço que partilhe o conhecimento alheio a esse enfrentamento diário que temos talvez seja mais frutífero", ponderou.

Pesquisadores – Janaína Damasceno expôs a realidade da USP, na qual a maioria das bancas são compostas por professores brancos. Segundo ela, nos trabalhos sobre a questão racial, os erros apontados durante a apresentação não são de conteúdo, são por conta da suposta militância. "Cada vez que dizem 'deixe de ser militante' estão dizendo é 'deixe de ser negro'".

Outro problema identificado pela doutoranda é que o argumento de muitos professores para a invisibilidade de autores negros nas pesquisas é que não há bons pesquisadores negros. "Vamos continuar sob esse jugo dos pesquisadores brancos?", questiona-se. "Precisamos nos colocar como intelectuais negros e dar visibilidade a intelectuais negros", conclui.

Redemocratização – Para a professora doutora Maria Aparecida, o racismo precisa ser discutido nas instituições, com treinamento e implementação de ações afirmativas. "É preciso buscar nas instituições outros pesquisadores negros que estejam passando pelas mesmas dificuldades, para educar a instituição a respeito da questão racial", orientou.

Segundo ela, não é mais possível isolar os discursos. "Precisamos trazer brancos para ouvirem nossas falas, para que eles possam aprender. Cabe aos negros redemocratizar esse país. As mulheres negras estão na ponta desse processo".

Foto: Denise Porfírio

sábado, 26 de novembro de 2011

Psicanalistas comemoram dia da consciência negra

No dia 20/11 foi comemorado o Dia da Consciência Negra. Desde a gestão de Pedro Gomes a nossa Sociedade assumiu o compromisso de não deixar essa data passar "em branco". Nos propusemos a realizar alguma atividade para discutir a questão do preconceito em geral e contra a população negra em especial. Neste ano a data coincidiu com o Simpósio e Assembléia de Delegados da Febrapsi realizados em Salvador que, nesse mesmo final de semana recebia delegados de diversos países que comemoravam a escolha da capital baiana como Capital Negra da América Latina. Durante o evento Febrapsi, atendendo a uma sugestão de Ney Marinho, o presidente Leonardo Francischelli que encerrava a sua gestão mencionou a data e leu trechos do documento anexo de Marco Antonio Chagas Guimarães, doutor em Psicologia pela PUC-RJ. Assim, todas as Sociedades Psicanalíticas brasileiras se irmanaram na comemoração. Juntem-se a nós na leitura do anexo.

Bernard Miodownik e Wania Cidade

Delegados pela SBPRJ

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÃLISE DO RIO DE JANEIRO - SBPRJ

www.sbprj.org.br

População Negra, Racismo e Sofrimento Psíquico
Marco Antonio Chagas Guimarães (*)

O Brasil é um país pluri-étnico que tem em torno de 52% de sua população constituída de negros (pretos e pardos), sendo o segundo país no mundo em população negra, seguido da Nigéria, país africano. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o Estado reconheceu que existe racismo no Brasil, mas a “herança do período escravocrata existente no imaginário brasileiro faz com que o racismo e a discriminação racial estejam profundamente enraizados na cultura e nas dinâmicas socais do nosso país” (Quintiliano e Lopes, 2007, p.1). Estatísticas oficiais evidenciam que o racismo é um dos determinantes das condições de saúde, o que resulta em altas taxas de morbidade e mortalidade da população negra e na existência de desigualdades e iniqüidades que impedem o acesso a direitos à metade da população brasileira.

No imaginário de nossa “democracia racial” ser negro é, por exemplo, ser feio, sujo, ter pouca inteligência. As positividades negras são, em geral, pensadas/sentidas em termos idealizados e/ou folclorizados, relacionado-as, ao samba, ao futebol, à destreza sexual, à resistência para o esforço no trabalho, ou resistência à dor. Ainda hoje, a literatura chama de banzo, numa forma romântico-folclorizada, o que sabemos ter sido depressão, conseqüência do sofrimento psíquico de pessoas negras durante o período escravocrata.

Na prática o produto final desse imaginário promove o travamento de portas em bancos, o acompanhamento - com o olhar e com a presença acintosa - a pessoas negras em shoppings e supermercados, promove a procura e o encontro de balas perdidas em corpos de sujeitos psíquicos que têm, em sua grande maioria, uma determinada cor. Sabemos também que a repercussão dessas vivências leva ao trabalho de baixa remuneração, desigualdades em educação e iniquidades em saúde, só para citar algumas formas de não garantia de direitos humanos.

A clínica de pacientes negros tem mostrado que as repercussões psíquicas dessas vivências, em um meio ambiente nada bom o suficiente, são humilhação social, baixa estima, timidez excessiva, irritabilidade, ansiedade intensa, estados fóbicos, hipertensão, depressão, obesidade, agressividade intra ou intersubjetiva, uso de álcool ou outras drogas, entre outros.

Neste dia 20 de novembro, dia em que se propõe uma reflexão à consciência, de negros e brancos, sobre as questões raciais brasileiras, por intermédio da figura de um representante da resiliência negra no Brasil, Zumbi dos Palmares, é importante que a psicanálise e nós, psicanalistas, possamos refletir em nossas interioridades, em nossos corações, sobre o tema “racismo e sofrimento psíquico” lembrando que a história da população negra no Brasil, assim como de sua subjetividade, é construída a partir de um processo político, econômico e ideológico que promove vulnerabilidades e iniqüidades no acesso aos direitos humanos.

O Premio Nobel da Paz de 1986, Elie Wiesel, sobrevivente de campos de concentração nazistas, numa entrevista concedida a revista Veja, em 2009, lembra-nos que o holocausto não pode ser negado “porque dói. Dói nos sobreviventes, nos seus filhos e nos filhos de seus filhos. Quem nega o holocausto pela dor que inflige aos sobreviventes e seus descendentes, comete mais do que apenas pecado (alienação). É uma crueldade”. Como muito bem aprendemos com a população judaica, é preciso “não esquecer para não repetir jamais”.

Minha contribuição busca propor que as pessoas presentes neste Encontro da Federação Brasileira de Psicanálise – Febrapsi possam acolher em suas interioridades, para posterior reflexão, a ideia de que o racismo é estruturante de nossas relações sociais e que as subjetividades que somos todos e, todos nós psicanalistas e profissionais de saúde mental, são construídas no interior destas relações. A ideia do quanto esse elemento fala, ou não, em nós, quando somos agentes de saúde, na escuta psicanalítica ou no trabalho em saúde mental. Meu desejo com esta contribuição é também buscar, além do direito à saúde, uma consciência mais ampla das relações sociais e de direitos humanos entre os brasileiros. Neste sentido, associo-me ao desejo expresso na fala de Sueli Carneiro, quando ela diz que “A utopia que hoje perseguimos consiste em buscar um atalho entre uma negritude redutora da dimensão humana e a universalidade ocidental hegemônica, que anula a diversidade. Ser negro sem somente ser negro, ser mulher sem ser somente mulher, ser mulher negra sem ser somente mulher negra. Alcançar a igualdade de direitos é converter-se em um ser humano pleno e cheio de possibilidades e oportunidades para além de sua condição de raça e gênero. Esse é o sentido final dessa luta” (Carneiro, 2003, p.57).

Referência Bibliográfica
CARNEIRO, S. - Enegrecer o Feminino: A Situação da Mulher Negra na América Latina a partir de uma Perspectiva de Gênero – in- ASHOKA Empreendedores Sociais e Takano Engenharia (org.) – Racismos Contemporâneos. Takano, Rio de Janeiro, 2003.

QUINTILIANO, L., LOPES, F. – Combate ao Racismo Institucional, DFID – Ministério do Governo Britânico para o Desenvolvimento Internacional, Brasília, 2007.

(*) - Doutor em psicologia clínica (PUC-Rio), psicólogo, psicanalista, integrante do Grupo Psicossomática Psicanalítica Oriaperê (RJ), integrante da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (núcleo RJ).

Foto: google

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Gênero e raça na 2ª Conferência do Desenvolvimento

Gênero e raça estão em destaque na 2ª Conferência do Desenvolvimento


Em arena de debates organizada pelo IPEA, ONU Mulheres, SPM e Seppir, temática é elevada aos grandes temas a serem considerados no desenvolvimento do País. De 23 a 25 de novembro, especialistas vão analisar políticas públicas, oportunidades e desafios para a superação das desigualdades raciais e de gênero

Alçado entre os grandes temas destacados pela 2ª Conferência do Desenvolvimento - Code, o combate ao racismo e ao sexismo será discutido na perspectiva dos indicadores socioeconômicos, que registram as desigualdades de gênero e raça, a partir de amanhã (23/11), em Brasília. Com extensa programação, o Espaço Gênero e Raça vai concentrar os debates sobre a análise das políticas públicas, oportunidades e desafios para a superação das desigualdades.

Terá, ainda, lançamento da pesquisa “Participação das mulheres no processo eleitoral de 2010”, lançamento de dois livros “Redistribuição, reconhecimento e representação: diálogos sobre a igualdade de gênero” e “Tensões e experiências: um retrato das trabalhadoras domésticas de Brasília e Salvador” e mostra fotográfica sobre mulheres negras, jovens, do campo e da cidade.

A programação será inaugurada, às 14h30 do dia 23 de novembro, com a apresentação da 4ª edição do Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, elaborado pelo IPEA, ONU Mulheres, Secretaria de Políticas para as Mulheres e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. A análise coloca em evidência 12 áreas temáticas: demografia, chefia de família, educação, saúde, previdência e assistência social, trabalho, trabalho doméstico, habitação e saneamento, acesso a bens duráveis e exclusão digital, pobreza e desigualdade de renda, uso do tempo e vitimização.

Das 16h30 às 18h30 serão iniciados os debates sobre os blocos temáticos do estudo. O primeiro deles “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça: bloco temático saúde e educação” terá as participações de Emanuelle Goés (UFBA), Edilza Sotero (USP), Edilza Lobo (IPEA) e Fernanda Lopes (UNFPA) acerca dos processos de geração e perpetuação das diferenças e das desigualdades de mulheres e homens, brancos/as e negros/as.

Na quinta-feira (24/11), as reflexões recomeçam, às 8h30, na mesa “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça: bloco temático vitimização”, composta por Carla Andrade (IPEA), Jackeline Romio (Unicamp) e Ana Sabóia (IBGE) sobre a compreensão de fenômenos como a violência de gênero e contra a juventude negra. A partir das 10h30, terá início o painel “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça: bloco temático renda, pobreza e desigualdade” será desenvolvido por Tatiana Silva (IPEA), tendo como debatedora a especialista em saúde pública Maria Inês Barbosa e foco nas dimensões de pobreza e desigualdade de renda frente às estratégias recentes do governo federal de enfrentamento à extrema pobreza.

Ainda na quinta-feira (24/11), haverá a mesa “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça: bloco temático uso do tempo”, das 14h30 às 16h30, com exposição de Cristiana Luiz (UNB) e Márcia Leporace (SPM) e debate de Vera Soares (Ministério da Ciência e Tecnologia) acerca da desigual distribuição do tempo entre trabalho doméstico não remunerado e mercado de trabalho, responsabilização feminina pelas atividades de cuidados e impacto nos diferentes grupos de mulheres. A roda do dia se encerrará no painel “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça: bloco temático habitação, saneamento, acesso a bens duráveis e exclusão digital”. O tema será apresentado, das 16h30 às 18h30, por Pensilvânia Neves (Unifacs/BA) e Layla Carvalho (UNB), tendo como debatedora Ana Izabel (UFRJ).

Participação política, mídia e trabalho doméstico
Os resultados da pesquisa “Participação das mulheres no processo eleitoral de 2010” serão apresentados, das 8h30 às 12h30, na mesa “Representação política, gênero e desenvolvimento”, composta por José Eustáquio Alves (IBGE), Marlise Matos (UFMG) e Jacira Melo (Instituto Patrícia Galvão), com moderação de Nina Madsen (SPM). O estudo foi financiado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres e realizado pelo Consórcio Bertha Lutz, integrado por pesquisadores de núcleos de pesquisas de universidades e organizações sociais. A pesquisa se desenvolveu por meios de três eixos: comportamento, tendências e percepções do eleitorado brasileiro, monitoramento das campanhas e candidaturas, e monitoramento da mídia jornalística.

Outro lançamento vai atrair as atenções no período da tarde, das 14h30 às 16h30, quando da apresentação do livro “Redistribuição, reconhecimento e representação: diálogos sobre a igualdade de gênero”, que concentra os debates realizados ao longo de dois anos no IPEA acerca da saúde, trabalho, violência e participação política sob a perspectiva de gênero e da igualdade entre homens e mulheres. O ato terá as exposições de Maria Aparecida Abreu (IPEA) sobre debate feminista e políticas sociais, Flávia Biroli (UNB) acerca de mulheres, mídia e política e Jacqueline Brigagão (USP) sobre mulheres, direitos sexuais, reprodutivos e políticas de saúde.

O último painel “Retrato da Desigualdade de Gênero e Raça: bloco temático trabalho e trabalho doméstico” e lançamento do livro “Tensões e experiências: um retrato das trabalhadoras domésticas de Brasília e Salvador”, de autoria do CFEMA, ONU Mulheres, OIT e IPEA completam a rodada de grandes temas de pesquisa e reflexão sobre políticas públicas e impactos nas populações de mulheres e homens, negros e brancos. A mesa será integrada por Joaze Bernardino-Costa (UNB) e Mônica Oliveira (Seppir), tendo como debatedora Betânia Ávila (SOS Corpo).

Arte para os olhos e a alma
O pulsante ativismo e a mobilização de mulheres negras, jovens, do campo e da cidade estão documentados pelas lentes de um grupo de fotógrafas e fotógrafos. Durante a 2ª Code, o público vai poder conferir as três exposições. “Vozes-Mulheres” sai do livro-fotografia 2011 – Ano Internacional das e dos Afrodescendentes, produzido pela ONU Mulheres com poema de Conceição Evaristo e produção fotográfica e estética de Januário Garcia e Luiz Gá, respectivamente, para o formato mostra de fotografia.
As fotógrafas Alexandra Costa, Elaine Campos, Julia Zamboni e Rayane Noronha retratam um movimento do qual fazem parte como jovens mulheres feministas na exposição “Mulheres em Marcha”. Enquanto “Retrato das Mulheres Brasileiras e Margaridas”, de Sydnei Murrieta, mergulha na diversidade feminina. O grupo de fotógrafas e fotógrafos participará na sexta-feira (25/11), às 16h30, de uma roda de conversa sobre suas produções no Espaço Latinidades.

2ª Conferência Nacional do Desenvolvimento – Code
Data: 23 a 25/11/2011
Horário: das 8h30 às 21h
Local: Parque de Exposições (Parque da Cidade) – Brasília/DF

Fonte:UNIFEM
Fotos:google

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

I Seminário Nacional sobre Direito e Saúde

O I Seminário Nacional sobre Direito e Saúde vai acontecer em Brasília entre os dias 22 e 24 de novembro. O evento, idealizado pelo Ministério da Saúde, Advocacia-Geral da União, Fundação Oswaldo Cruz, Conselho Nacional do Ministério Público Conselho Nacional de Justiça, Universidade de São Paulo e outros órgãos, reunirá pesquisadores, acadêmicos, operadores do direito na área da saúde pública, gestores e participantes do controle social.

Data: 22 a 24 de novembro de 2011
Local: FIOCRUZ – L3 Norte, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Gleba A, SC 4

Para o Consultor Jurídico do Ministério da Saúde, Jean Uema, o encontro será uma grande oportunidade para estabelecer consenso sobre as interpretações jurídicas quanto ao direito à saúde. “Uma das discussões que precisamos aprofundar é o conhecimento sobre o ordenamento jurídico da saúde e a sua interpretação. Além disso, as novas leis que estão surgindo dentro do direito sanitário, como a regulamentação da Lei Orgânica da Saúde, e a judicialização na saúde também devem ser amplamente debatidos”, explica.

No primeiro dia, será discutida “a atuação dos poderes públicos em defesa da saúde”. Essa mesa tem como foco abordar como os três Poderes atuam para atender às necessidades da população na área da saúde, além da contribuição destes na consolidação e melhoria do SUS. Também será discutido neste dia o tema ”controle judicial das políticas públicas”, que tratará de questões gerais sobre competência, legitimidade e limites de atuação do Poder Judiciário.

“A integralidade da assistência à saúde e a Lei 12.40111” será o primeiro tema do dia 23, quando será discutida a atuação das associações de classe e das organizações não governamentais, em relação à integralidade da assistência à saúde, e os possíveis impactos da lei de incorporação de tecnologias em saúde.
O último dia do evento (24) trará como assuntos as “novas perspectivas do Direito Sanitário” e “quanto queremos gastar com a saúde?”. O primeiro debate deverá discutir as implicações para a filosofia e a teoria do direito da afirmação de direitos sociais. O segundo tema vai abordar o orçamento destinado à saúde pública.

CONCURSO DE BOAS PRÁTICAS – Durante o Seminário, também serão apresentados os vencedores do 1º Concurso Nacional de Práticas Exitosas na Área de Saúde. A ideia é incentivar boas práticas na área de redução de litigiosidade e gestão e na melhoria da qualidade de acesso ao SUS.

A abertura do seminário ocorre às 9h do dia 22, com pronunciamento do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams.

Fonte: Blog Saúde com Dilma

domingo, 20 de novembro de 2011

Lançamento do livro sobre Pierre Verger

No próximo sábado, dia 26 de novembro,a partir das 19:30h no Museu da República vai acontecer o lançamento do livro Pierre Fatumbi Verger: do olhar livre ao conhecimento iniciático, de Jérôme Souty. O livro, que se aproxima de um estudo biográfico, é mais que uma análise da produção científica e artística de Pierre Verger ou uma reflexão geral sobre a originalidade de sua experiência.

sábado, 19 de novembro de 2011

Saúde da População Negra será celebrada na Cinelândia


A Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde e a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro realizam a Celebração da Saúde e Cidadania da População Negra.

O evento acontece no dia 29 de novembro, de 09 as 14h, em frente a Cãmara Municipal, na Cinelândia, no Rio de Janeiro.

A celebração vai contar com diversos parceiros da Rede e a presença de serviços oferecidos pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, além da mostra das atividades desenvolvidas pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde.

Para esquentar os tamborins vão estar presentes o Afoxé Bamba no Arô e o Bloco Carnavalesco Amigos do Seu Zé.
Vale a pena conferir.

Crianças negras são preteridas por famílias candidatas à adoção

Três anos após a criação do Cadastro Nacional de Adoção, as crianças negras ainda são preteridas por famílias que desejam adotar um filho. A adoção inter-racial continua sendo um tabu: das 26 mil famílias que aguardam na fila da adoção, mais de um terço aceita apenas crianças brancas. Enquanto isso, as crianças negras (pretas e pardas) são mais da metade das que estão aptas para serem adotadas e aguardam por uma família.

Apesar das campanhas promovidas por entidades e governos sobre a necessidade de se ampliar o perfil da criança procurada, o supervisor da 1ª Vara da Infância e Juventude do Distrito Federal, Walter Gomes, diz que houve pouco avanço.

"O que verificamos no dia a dia é que as família continuam apresentando enorme resistência [à adoção de crianças negras]. A questão da cor ainda continua sendo um obstáculo de difícil desconstrução."

Hoje no Distrito Federal há 51 crianças negras habilitadas para adoção, todas com mais de 5 anos. Entre as 410 famílias que aguardam na fila, apenas 17 admitem uma criança com esse perfil. Permanece o padrão que busca recém-nascidos de cor branca e sem irmãos. Segundo Gomes, o principal argumento das famílias para rejeitar a adoção de negros é a possibilidade de que eles venham a sofrer preconceito pela diferença da cor da pele.

"Mas esse argumento é de natureza projetiva, ou seja, são famílias que já carregam o preconceito, e esse é um argumento que não se mantém diante de uma análise bem objetiva", defende Gomes.

O tempo de espera na fila da adoção por uma criança com o perfil "clássico" é em média de oito anos. Se os pretendentes aceitaram crianças negras, com irmãos e mais velhas, o prazo pode cair para três meses, informa.

Há cinco anos, a advogada Mirian Andrade Veloso, 38, se tornou mãe de Camille, uma menina negra que hoje está com 7 anos. Mirian, que tem cabelos loiros e olhos claros, conta que na rotina das duas a cor da pele é apenas um "detalhe". Lembra-se apenas de um episódio em que a menina foi questionada por uma pessoa se era mesmo filha de Mirian, em função da diferença física entre as duas.

"Isso [o medo do preconceito] é um problema de quem ainda não adotou e tem essa visão. Não existe problema real nessa questão, o problema está no pré-conceito daquela situação que a gente não viveu. Essas experiências podem existir, mas são muito pouco perto do bônus", afirma a advogada.

Hoje, Mirian e o marido têm a guarda de outra menina de 13 anos, irmã de Camille, e desistiram da ideia de terem filhos biológicos. "É uma pena as pessoas colocarem restrições para adotar uma criança porque quem fica esperando para escolher está perdendo, deixando de ser feliz."

Para Walter Gomes, é necessário um trabalho de sensibilização das famílias para que aumente o número de adoções inter-raciais.

"O racismo, no nosso dia a dia, é verificado nos comportamentos, nas atitudes. No contexto da adoção não tem como você lutar para que esse preconceito seja dissolvido, se não for por meio da afirmatividade afetiva. No universo do amor, não existe diferença, não existe cor. O amor, quando existe de verdade nas relações, acaba por erradicar tudo que é contrário à cidadania", disse.

Fonte: Agência Brasil