sábado, 27 de março de 2010

Racismo como determinante das condições de saúde foi tema de curso em Salvador



















Fundo de População das Nações Unidas promoveu curso para discutir racismo como determinantes das condições de saúde


Nos dias 23 e 24 de março, foi realizado em Salvador o curso Racismo como Determinante das Condições de Saúde: em busca da integralidade e equidade em saúde da população negra do Brasil em Salvador, que teve como coordenadora a Dra Fernanda Lopes do UNFPA. O curso fez parte das atividades que antecederam o I Seminário Internacional de Saúde da População negra e Indígena.


A conferência de abertura contou com a exposição da Dra Jurema Werrneck que faz parte do Conselho Nacional de Saúde e também é coordenadora de Criola. Jurema iniciou explicando que para entender o campo de saúde da população negra é importante conhecer os conceitos de racismo, interseccionalidade, universalidade e equidade . Logo depois complementou apresentando os princípios e conceitos como racismo institucional, disparidade racial, desigualdade, vulnerabilidade, tratamento desigual e iniqüidade. Jurema ressaltou que "o protagonismo de negros e negras na promoção da saúde é aniquilado com a terceirização. Os interesses privados são contrários ao enfrentamento do racismo e outras formas de hierarquização social".


A expositora Dra Dulce Maria Lima, professora da Faculdade de Medicina da USP apresentou o tema "Quando o isolamento dos fatores é impeditivo para a efetivação do direito". Dulce apresentou os resultados de uma pesquisa realizada em São Paulo e as mudanças estabelecidas pela entrada das Fundações de Direito Privado no gerenciamento da saúde em São Paulo e a não garantia dos conselhos de saúde por essas organizações, o que dificulta a participação popular em saúde contradizendo um dos princípios fundamentais do SUS. Dulce enfatizou que para promover integralidade e equidade, via atenção básica, a qualidade e a natureza da escuta dos sujeitos é fundamental", para quem as relações racializadas impedem a resolutividade do cuidado. "Temos dificuldade em preencher o quesito cor nos ambulatórios. A população tem dificuldade em se auto-declarar porque teme mais discriminação."


A Roda de Conversa contou com a participação de Celso Ricardo Monteiro, coordenador adjunto do Programa de DST/Aids da Prefeitura Municipal de São Paulo, Raquel Souzas, Instituto Multidisciplinar em Saúde da UFBA, campus Anísio Teixeira (Vitoria da Conquista/BA), José Marmo Silva, Secretário-executivo da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde e Juliana Nunes, jornalista e integrante da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal. A importância da tradição e da ancestralidade foi um dos temas discutidos na roda de conversa. Foram também discutidos aspectos importantes das religiões de matrizes africanas, como o acolhimento, a inclusão, o pertencimento ao grupo, a medicina tradicional, que faz com que os terreiros funcionem como espaços promotores de saúde e de preservaçao de práticas terapêuticas.


Logo depois foi realizado um painel de Intercâmbio de Saberes e Troca de Experiências com as expositoras: Fabiane Oliveira, projeto "Direito à Saúde das Mulheres e Centro de Promoção de Direitos das Mulheres Negras, Alaerte Leandro Martins, Rede de Mulheres Negras do Paraná e Elaine Soares, Rede Lai Lai Apejo – População Negra e Aids. Cada expositora mostrou o objetivo, as atividades e os resultados de experiências vivenciadas em saúde da população negra com enfoque nos direitos humanos.


As Comunicações Coordenadas foram apresentadas em 2 fases. A primeira fase contou com as presenças de Kelly Adriano Oliveira – Mulheres negras: corporeidade, identidade e saúde, Marco Antonio Guimaraes – Afrodescendência, subjetividades e pertencimento, Deivison Faustino - experiências do movimento negro em HIV/Aids. A segunda parte contou com Climene Camargo – O cotidiano da violência familiar na população negra: um estudo dos determinantes sociais, Quessia Paz Andrade – Desigualdades raciais no acesso de mulheres ao cuidado pré-natal e no parto , Elcimar Dias Pereira - Desejos polissêmicos: discursos de jovens mulheres negras sobre sexualidade


A palestra Comunicação para o enfrentamento ao racismo e promoção da saúde da população negra foi um dos pontos alto e teve como expositora a jornalista Rachel Quintiliano e ao final foram realizados exercícios práticos: informação e comunicação para o exercício do controle social em saúde da população negra tendo como facilitadoras Rachel Quintiliano e Juliana Nunes.

Na avaliacao do público presente o curso atendeu as expectativas e merece ser replicado em todo o país.

Fotos: Marmo

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