Fundo de População das Nações Unidas promoveu curso para discutir racismo como determinantes das condições de saúde
Nos dias 23 e 24 de março, foi realizado em Salvador o curso Racismo como Determinante das Condições de Saúde: em busca da integralidade e equidade em saúde da população negra do Brasil em Salvador, que teve como coordenadora a Dra Fernanda Lopes do UNFPA. O curso fez parte das atividades que antecederam o I Seminário Internacional de Saúde da População negra e Indígena.
A conferência de abertura contou com a exposição da Dra Jurema Werrneck que faz parte do Conselho Nacional de Saúde e também é coordenadora de Criola. Jurema iniciou explicando que para entender o campo de saúde da população negra é importante conhecer os conceitos de racismo, interseccionalidade, universalidade e equidade . Logo depois complementou apresentando os princípios e conceitos como racismo institucional, disparidade racial, desigualdade, vulnerabilidade, tratamento desigual e iniqüidade. Jurema ressaltou que "o protagonismo de negros e negras na promoção da saúde é aniquilado com a terceirização. Os interesses privados são contrários ao enfrentamento do racismo e outras formas de hierarquização social".
A expositora Dra Dulce Maria Lima, professora da Faculdade de Medicina da USP apresentou o tema "Quando o isolamento dos fatores é impeditivo para a efetivação do direito". Dulce apresentou os resultados de uma pesquisa realizada em São Paulo e as mudanças estabelecidas pela entrada das Fundações de Direito Privado no gerenciamento da saúde em São Paulo e a não garantia dos conselhos de saúde por essas organizações, o que dificulta a participação popular em saúde contradizendo um dos princípios fundamentais do SUS. Dulce enfatizou que para promover integralidade e equidade, via atenção básica, a qualidade e a natureza da escuta dos sujeitos é fundamental", para quem as relações racializadas impedem a resolutividade do cuidado. "Temos dificuldade em preencher o quesito cor nos ambulatórios. A população tem dificuldade em se auto-declarar porque teme mais discriminação."
A Roda de Conversa contou com a participação de Celso Ricardo Monteiro, coordenador adjunto do Programa de DST/Aids da Prefeitura Municipal de São Paulo, Raquel Souzas, Instituto Multidisciplinar em Saúde da UFBA, campus Anísio Teixeira (Vitoria da Conquista/BA), José Marmo Silva, Secretário-executivo da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde e Juliana Nunes, jornalista e integrante da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal. A importância da tradição e da ancestralidade foi um dos temas discutidos na roda de conversa. Foram também discutidos aspectos importantes das religiões de matrizes africanas, como o acolhimento, a inclusão, o pertencimento ao grupo, a medicina tradicional, que faz com que os terreiros funcionem como espaços promotores de saúde e de preservaçao de práticas terapêuticas.
Logo depois foi realizado um painel de Intercâmbio de Saberes e Troca de Experiências com as expositoras: Fabiane Oliveira, projeto "Direito à Saúde das Mulheres e Centro de Promoção de Direitos das Mulheres Negras, Alaerte Leandro Martins, Rede de Mulheres Negras do Paraná e Elaine Soares, Rede Lai Lai Apejo – População Negra e Aids. Cada expositora mostrou o objetivo, as atividades e os resultados de experiências vivenciadas em saúde da população negra com enfoque nos direitos humanos.
As Comunicações Coordenadas foram apresentadas em 2 fases. A primeira fase contou com as presenças de Kelly Adriano Oliveira – Mulheres negras: corporeidade, identidade e saúde, Marco Antonio Guimaraes – Afrodescendência, subjetividades e pertencimento, Deivison Faustino - experiências do movimento negro em HIV/Aids. A segunda parte contou com Climene Camargo – O cotidiano da violência familiar na população negra: um estudo dos determinantes sociais, Quessia Paz Andrade – Desigualdades raciais no acesso de mulheres ao cuidado pré-natal e no parto , Elcimar Dias Pereira - Desejos polissêmicos: discursos de jovens mulheres negras sobre sexualidade
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